O comunicador e influenciador digital Felipe Neto disse, em entrevista exclusiva à CNN, que a “criação de regulamentações específicas para a nossa vida virtual é a única forma de salvaguardar a liberdade e responsabilizar os excessos”.
A principal preocupação de Neto é manter um ambiente saudável na internet, e para isso ele diz que todos devem entender que a “vida digital já se tornou parte fundamental da existência e precisa de regras básicas de funcionamento social para proteger os direitos individuais e coletivos de todos”.
Neto vai participar na semana que vem, em Paris, da primeira conferência global sobre regulamentação da internet e das redes sociais promovida pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Com mais de 44 milhões de seguidores no YouTube, ele será um dos principais representantes do Brasil na conferência –que já tem mais de dois mil inscritos para assistir às palestras e debates. O mote principal da Unesco para o evento é: “ Por Uma Internet Confiável”.
Na entrevista, Neto disse que “é fundamental que especialistas de diversas áreas comuniquem-se mundialmente a respeito desse que é um dos maiores desafios da atualidade”.
Segundo ele, “a internet não é mais um ‘local’. Não é a internet que deve ser mais confiável, mas a humanidade em si, através tanto da vida física quanto da vida digital”.
Neto também fez uma rápida análise da atuação das redes sociais nessa questão.
“O sistema de busca incessante pelo lucro leva redes sociais a agirem na contramão do interesse público, pois elas precisam priorizar manter o usuário conectado, o que potencializa a radicalização com conteúdos extremistas”, disse o influenciador.
“Nós estamos no meio de uma guerra de mídia, em que a atenção de um ser humano é o bem mais valioso que existe. A busca pela atenção radicalizou inúmeras sociedades mundo afora, impulsionadas por algoritmos poderosos de inteligência artificial que mostram exatamente aquilo que vai fisgar sua mente para ficar mais um minutinho online”, disse ele.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também foi convidado para a conferência e vai gravar um vídeo com uma mensagem para os participantes.
Lula defende uma regulamentação mais rígida da internet e das redes sociais, e já disse que o assunto deveria ser tratado pelo G-20, o grupo das maiores economias do planeta.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso também estará na conferência. Barroso disse à CNN que é necessário atingir “um ponto regulatório ótimo” na internet para preservar a democracia e a liberdade de expressão.
Veja a seguir mais detalhes da entrevista de Felipe Neto à CNN:
CNN: Esta vai ser a primeira conferência global da Unesco sobre a internet. O mote é: Por Uma internet confiável. Qual a importância de um evento como esse? E como a internet pode, de fato, ser mais confiável?
Felipe Neto: É fundamental que especialistas de diversas áreas comuniquem-se mundialmente a respeito desse que é um dos maiores desafios da atualidade. A internet não é mais um “local”. Não é a internet que deve ser mais confiável, mas a humanidade em si, através tanto da vida física quanto da vida digital. É preciso romper a barreira de tratar o ambiente virtual como “algo que se faz” ou “lugar que se frequenta”. Na minha concepção, é preciso entender que a vida digital já se tornou parte fundamental da existência e, dessa forma, precisa de regras básicas de funcionamento social para proteger os direitos individuais e coletivos de todos que a vivem.
CNN: Você é o maior influenciador digital do Brasil, um dos países com enorme atividade na internet. Qual será sua mensagem nessa conferência? O que você pretende dizer para essa plateia global?
Felipe Neto: Minha área é a comunicação digital. Como atingir públicos distintos, navegar pelas diferentes plataformas e fazer uso desse poder de comunicação para tentar fazer alguma diferença positiva. Foi dessa forma que criei o Instituto VERO e o movimento Cala-Boca Já Morreu. Alinhado a isso, defendo um debate amplo para tratar a vida digital de todo indivíduo como um direito básico, com seus deveres e responsabilidades. Somente dessa forma poderemos impedir censuras, decisões autoritárias e cerceamentos. A criação de regulamentações específicas para a nossa vida virtual é a única forma de salvaguardar a liberdade e responsabilizar os excessos.
CNN: A própria ONU diz que a internet é uma ferramenta de poder sem precedentes para a comunicação e a disseminação do conhecimento. Mas eles dizem que as redes sociais também estão espalhando desinformação, discurso de ódio e teorias da conspiração que danificam o tecido de nossas sociedades. Qual é o perigo disso? E como conter esse perigo?
Felipe Neto: Essa é a pergunta de 1 bilhão de dólares e a grande razão pela qual esses debates são tão importantes. Não há respostas fáceis. O sistema de busca incessante pelo lucro leva redes sociais a agirem na contramão do interesse público, pois elas precisam priorizar manter o usuário conectado, o que potencializa a radicalização com conteúdos extremistas. Nós estamos no meio de uma guerra de mídia, em que a atenção de um ser humano é o bem mais valioso que existe. A busca pela atenção radicalizou inúmeras sociedades mundo afora, impulsionadas por algoritmos poderosos de inteligência artificial que mostram exatamente aquilo que vai fisgar sua mente para ficar mais um minutinho online. No meio desse debate há milhões de nuances, desde as timelines infinitas até o sistema macroeconômico de funcionamento das plataformas. A solução para tudo isso não existe de uma vez só. Para mim, o caminho é trabalhar a vida digital assim como trabalhamos a nossa vida física, com regras e deveres, adaptando, evoluindo e discutindo pela eternidade como nós podemos transformar o nosso ambiente social no mais harmonioso possível.
Fonte: CNN Brasil
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