A primeira região é fundamental para definir se haverá ou não segundo turno, pois concentra a maior fatia do eleitorado. A segunda representava a maior fraqueza eleitoral de Bolsonaro e grande hegemonia de Lula.
Por ora, alguns desses sinais de recuperação, que aparecem não só no levantamento da Quaest, mas também de outros institutos, vão mexendo muito devagar na fotografia geral da disputa eleitoral, daí a dúvida, comum a todos os especialistas e profissionais de pesquisas: haverá tempo para Bolsonaro ter chances reais de vitória a partir desses investimentos que fez, muitos deles com beneplácito da oposição e à revelia da Constituição e das leis?
Comecemos pelos dados favoráveis a ele vindos do Nordeste e dos eleitores de mais baixa renda. A avaliação do governo melhora num ritmo bem superior ao da intenção de voto em Bolsonaro. E Lula ainda conserva sua grande vantagem (na verdade, o petista ainda oscilou positivamente na margem de erro na região).
Caiu de 55% para 49% no Nordeste o contingente que avalia o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo. É um percentual que supera a melhora nacional da avaliação.
Entre os que recebem o Auxílio Brasil, essa queda da reprovação foi ainda mais drástica: de 51% para 39%. Detalhe: o aumento do benefício ainda nem começou a ser pago.
De novo o que fica da análise dos gráficos é a dúvida quanto ao tempo hábil de que Bolsonaro dispõe para se tornar competitivo. Mas sua primeira missão é garantir o segundo turno, e esta parece possível diante da melhora do escrutínio sobre sua gestão, em quase todas as estratificações.
Para a segunda missão, de suplantar Lula num eventual segundo turno, a batalha no Sudeste é fundamental. E Bolsonaro empatou numericamente com o petista na região que concentra os três principais colégios eleitorais do país: 37% para cada um. O dado difere bastante de outros institutos, como o Datafolha.
Pesquisa específica da Quaest em São Paulo nos próximos dias deverá detalhar mais a recuperação do presidente no estado, mas indicadores como a queda da inflação, que vem sendo martelada por ele nas redes sociais, e a ação do Planalto para forçar a queda nos preços dos combustíveis são fatores com grande influência em centros urbanos, diferentemente da política de reajuste dos benefícios sociais, que tem mais efeito no Nordeste.
Oposição subestimou efeito da PEC Kamikaze
O que eu venho analisando desde a formatação da PEC Kamikaze, com todas as excepcionalidades que foram criadas para aprová-las, vai se confirmando pelas pesquisas: a oposição subestimou o efeito que dinheiro na veia às vésperas da eleição teria sobre a popularidade e a competitividade eleitoral de Bolsonaro.
A curva francamente descendente até da rejeição do presidente, a barreira que até aqui vem sendo usada como medida para mostrar que ele seria inviável eleitoralmente, mostra que mesmo isso é suscetível ao poder da máquina.
Os ataques do presidente à democracia, embora sejam alvo de crítica e apareçam como uma razão a desencorajar o voto em Bolsonaro, têm menos peso na pesquisa da Quaest que o aumento do Auxílio Brasil e a redução do ICMS dos combustíveis, o que é outro fator que a oposição deveria analisar com atenção.
Achar que a eleição está definida em favor de Lula, e ainda mais no primeiro turno, não encontra amparo nas curvas dos gráficos das pesquisas a dois meses do pleito.
Fonte: O GLOBO