A discussão sobre os obstáculos enfrentados por mulheres no mercado de trabalho ganhou recentemente a contribuição de um novo estudo sobre o impacto da maternidade. A pesquisa, da Universidade de Princeton e da London School of Economics, estima em 38% a queda de renda das brasileiras nos anos seguintes à chegada de um filho.
A distorção é global, mas o Brasil é exceção negativa. O “imposto maternidade” pago pelas brasileiras está a 13 pontos percentuais do esperado para o nível de desenvolvimento do país. Ao tratar da pesquisa em sua coluna no GLOBO, o economista Carlos Góes, da Universidade da Califórnia, afirmou que as atitudes rígidas em relação ao gênero têm impacto “grande e de longo prazo” na inserção e desempenho das mulheres no mercado de trabalho. A situação é reforçada por preconceitos populares que atribuem a homens e mulheres papéis estanques (absurdos como “meninos vestem azul, meninas vestem rosa”).
Quando a dedicação maior aos filhos por parte da mãe é opção do casal, não há problema. Mas raramente é o que acontece. Socialmente, as mulheres são impelidas a interromper ou modificar drasticamente seus planos de carreira com a chegada das crianças. Para famílias de baixa renda, há um drama adicional: faltam creches. Desde 2007, o governo federal aprovou a construção de 15.700 escolas e creches. De acordo com levantamento feito neste ano pela ONG Transparência Brasil, pouco mais da metade foi concluída.
No Brasil, como noutros países, mulheres ocupam uma proporção menor que homens em cargos de média gerência, são raridade no comando de grandes empresas e quase inexistentes em conselhos de administração. Por anos, a explicação para esse desnível se baseava na qualificação. Balela. Há mais de duas décadas as mulheres são maioria nas universidades brasileiras. Já em 2013, mais mulheres concluíam cursos de graduação emDireito e administração do que homens.
Existe, claro, preconceito, mas ele não explica tudo. O novo estudo traz uma contribuição valiosa ao levantar a importância decisiva da maternidade, espécie de ponto de inflexão na carreira de muitas executivas. As que não têm apoio do parceiro nem querem ou não podem terceirizar o cuidado com os filhos se veem forçadas a tirar o pé do acelerador. Isso é ruim para as mulheres, para seus maridos, para a economia e para o país como um todo.
Para atacar o problema, empresas deveriam criar condições para que as profissionais possam passar mais tempo com filhos pequenos sem perder cargo, salário ou promoções. O trabalho remoto popularizado pela pandemia mostra que jornadas flexíveis costumam ser mais produtivas. É preciso também reeducar os homens, para que dividam as tarefas, de modo a permitir às mulheres a permanência no mercado de trabalho. Não se trata apenas de questão de justiça ou equidade. Como mostra o estudo, a perda de profissionais competentes como as mulheres empobrece o país e tem impacto negativo também na economia.
Fonte: O GLOBO