Pela primeira vez, cientistas identificaram um conjunto de variantes genéticas ligadas à dislexia. Em estudo publicado na revista científica Nature Genetics, pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, analisaram o DNA de mais de 51,8 mil pessoas com o distúrbio e compararam com dados de um 1,09 milhão de indivíduos sem o diagnóstico. Após avaliar milhões de variações dos genes, eles descobriram 42 específicas que foram encontradas apenas no grupo com dislexia.
As estimativas apontam que até 17% da população mundial têm o distúrbio que afeta áreas da cognição como aprendizado, leitura e escrita. Embora as causas exatas não sejam bem compreendidas, já se sabia que há um fator genético envolvido. Segundo informações da Associação Brasileira de Dislexia, mais de 80% dos casos no Brasil têm um caráter hereditário, ou seja, são pessoas com familiares que também têm o diagnóstico.
Os cientistas explicam que estudos anteriores que analisaram o componente genético da dislexia foram conduzidos com números pequenos de participantes, gerando evidências que não eram consideradas claras sobre o tema. No novo trabalho, porém, os pesquisadores escoceses realizaram o mais amplo estudo sobre o tema para encontrar quais genes de fato são associados ao quadro.
Cerca de um terço das variantes genéticas identificadas pelos cientistas, 15 das 42, já haviam sido anteriormente ligadas ao neurodesenvolvimento, como habilidades cognitivas no geral, atraso de linguagem, e desempenho acadêmico. As outras 27 foram percebidas de forma inédita, e os pesquisadores acreditam que podem representar componentes especificamente associados à capacidade de ler e escrever.
Muitos dos genes identificados também são associados ao transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), afirmam os responsáveis pelo estudo, reforçando a relação entre os dois diagnósticos, que muitas vezes ocorrem de forma simultânea. Além disso, eles disseram que as informações genéticas permitiram que fosse estimado o nível de capacidade de ler e escrever dos participantes, porém não de forma tão precisa como o necessário para que isso se torne uma prática clínica no diagnóstico.
Para a autora do estudo e pesquisadora da Escola de Filosofia, Psicologia e Ciências da Linguagem da Universidade de Edimburgo, Michelle Luciano, os resultados do novo trabalho são importantes para auxiliar no entendimento do diagnóstico e elucidam uma série de perguntas até então não respondidas sobre a dislexia.
“Nossas descobertas mostram que diferenças genéticas comuns têm efeitos muito semelhantes em meninos e meninas, e que existe uma ligação genética entre dislexia e ambidestria. Trabalhos anteriores sugeriram que algumas estruturas cerebrais podem ser alteradas em pessoas com dislexia, mas não encontramos evidências de que os genes expliquem isso. Nossos resultados também sugerem que a dislexia está intimamente relacionada geneticamente ao desempenho em testes de leitura e ortografia, reforçando a importância de testes padronizados na identificação da dislexia”, diz a cientista em comunicado.
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