A Polícia Civil do Tocantins (PC-TO), por meio da 1ª Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (1ª DHPP em Palmas), deflagrou nessa terça-feira, 14, a Operação Petro 65, com o objetivo de prender os autores do homicídio de Nilton Alcântara Neves, empresário do ramo de postos de combustíveis da Capital. Após um longo trabalho investigativo, a equipe da 1ª DHPP em Palmas identificou, localizou e prendeu, logo pela manhã, os autores do crime no estado do Mato Grosso, de onde são oriundos. Os detalhes da investigação foram apresentados na manhã desta quarta-feira, 15, em coletiva à imprensa.
Além da prisão dos dois autores do crime na cidade Cuiabá (MT), foram cumpridos 11 mandados de busca, sendo sete também na capital mato-grossense, dois na cidade de Ribeirão Preto (SP), um na cidade de Rondon do Pará (PA) e um em Palmas. As buscas foram cumpridas em residências de possíveis laranjas e pessoas ligadas de alguma forma à organização criminosa. Uma das buscas na cidade de Cuiabá foi na casa de um ex-policial civil do Mato Grosso, que, na véspera do crime, fez consultas das placas dos carros da vítima nas plataformas policiais.
Os dois homens foram recambiados para Palmas, onde foram ouvidos e, após os procedimentos legais cabíveis, foram conduzidos à Casa de Prisão Provisória de Palmas (CPPP), onde permanecerão à disposição do Poder Judiciário.
A Operação contou com o apoio de policiais civis dos estados do Mato Grosso, de São Paulo e do Pará, além da Polícia Militar do Tocantins por meio do Grupamento Aéreo (Graer).
Durante a coletiva, o secretário da Segurança Pública do Tocantins, Wlademir Costa, destacou que, apesar da complexidade do caso, a Polícia Civil chegou aos autores do crime e que novos desdobramentos podem surgir a partir do material apreendido. “É um caso que, por sua natureza, é complexo, demandando tempo para investigar. A equipe da 1ª DHPP chegou aos autores do crime, realizou apreensões de documentos durante a operação, que serão devidamente analisados. Agora, a Polícia Civil vai em busca da motivação dos autores para cometer o crime, então teremos novos desdobramentos”, destacou o secretário.
O crime
O empresário Nilton Alcântara Neves foi morto na noite do dia 25 de janeiro de 2022, na frente da mulher e dos filhos menores. As investigações iniciaram imediatamente após o crime, com a coleta das imagens captadas pelo sistema de monitoramento instalado no posto de combustíveis. Pelas imagens, os policiais constataram que um dos autores chegou ao local por volta das 18h30, vestindo uma camisa azul de manga longa, calça jeans e um boné preto.
“Até a chegada da vítima, o assassino caminha pelas dependências da loja de conveniência do posto de gasolina, chegando a comprar uma garrafa de água. No momento em que o empresário chega ao estabelecimento, o criminoso passa a monitorá-lo a distância. Em certo momento, Nilton chega a cruzar com o criminoso, caminhando pelas dependências do estacionamento do posto. No instante em que se vê lado a lado com seu alvo, o criminoso, de maneira sorrateira, segue Nilton. Valendo-se do fato de a vítima estar de costas e entretida com o preparo do veículo para viagem que faria, o marginal efetua contra ele vários disparos de arma de fogo”, explicou o delegado Eduardo Menezes durante coletiva à imprensa.
O delegado lembra que tanto a mulher do empresário quanto seus filhos ficaram expostos ao risco. “Os filhos de Nilton estavam dentro do automóvel e, por muita sorte, também não foram atingidos. Além de terem sido expostas ao risco de morte, as crianças se viram obrigadas a assistir à morte do pai, o que reveste de ainda mais reprovabilidade a conduta do atirador”, complementou o delegado.
Imagens das câmeras de segurança, próximas ao local do crime, mostram que logo após alvejar a vítima, o autor fugiu do local em direção à marginal da rodovia TO-050 (sentido sul), passando por dentro do bolsão do estacionamento na Alameda 7, da quadra Arse 75 (712 sul). Em meio à fuga, o autor se desfaz da camisa azul de manga longa que usava, passando a trajar apenas uma camiseta de cor preta que vestia por baixo.
A investigação
A investigação apontou que o autor do crime chegou ao local a pé, por isso, a equipe da 1ª DHPP requisitou imagens de sistemas de segurança de outros estabelecimentos próximos, que possibilitaram verificar que o autor desembarcou de um veículo Voyage, de cor prata, às margens da Rodovia Estadual TO-050, distante pelo menos 200 metros do posto de combustível. “A partir daí, fizemos um exaustivo trabalho no sentido de identificar as incontáveis possíveis rotas de fuga, analisando centenas de horas de vídeos registrados por câmeras da cidade, até que conseguimos identificar a placa do automóvel e sua respectiva proprietária, que é moradora de Cuiabá e mãe do autor dos disparos. Ela, na verdade, era dona do veículo só no papel. Quem usufruía do bem era o filho dela”, contou.
Com o autor do crime devidamente identificado, as equipes da 1ª DHPP também realizaram um trabalho de buscas na rede hoteleira de Palmas, a fim de averiguar se o autor havia se hospedado em algum estabelecimento. “Verificamos que o proprietário do veículo chegou em Palmas no dia 17 janeiro de 2022 permanecendo na cidade até o dia 26, dia seguinte ao homicídio. Ele ficou hospedado em três hotéis diferentes nesse período”, explicou o delegado, ressaltando que os policiais tiveram o cuidado de comparar as imagens das câmeras de segurança do posto com as imagens obtidas nos hotéis, não restando dúvidas de que se tratava da mesma pessoa.
Ao obter as imagens das câmeras dos hotéis, os policiais constataram que o autor não estava sozinho. “Identificamos ainda o homem que dirigiu o veículo para levar o atirador até o local do crime e que o ajudou durante a fuga. Trata-se de um ex-policial civil do Estado do Mato Grosso, que foi demitido do cargo por envolvimento com tráfico internacional de drogas”, destacou o delegado.
Envolvimento com outros crimes
Relatórios de inteligência financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontaram que o atirador recebeu R$ 51 mil, oriundos de três contas bancárias, dias após o crime. “Uma dessas contas, cuja titular tem renda mensal de aproximadamente R$ 2,8 mil, movimentou R$ 60 milhões em um ano, ações típicas de grupos ligados à narcotraficância. A análise dessas movimentações financeiras suspeitas e outras diligências investigativas feitas pela equipe da Divisão de Homicídios fizeram concluir que os responsáveis pela morte do empresário são membros de uma organização criminosa de tráfico internacional de drogas”, concluiu o delegado Eduardo Menezes.
“Identificamos os autores do crime e começamos a notar a ligação, principalmente por transferências bancárias entre essas pessoas que tiveram busca e apreensão em suas casas e escritórios, quantias muito altas. Uma assistente administrativo que ganha R$ 2 mil movimentando R$ 87 milhões e transferindo dinheiro aos autores”, analisou o delegado Israel Andrade, informando que já existe investigação tanto da Polícia Federal no Mato Grosso e das Polícias Civil do MT e de Pernambuco.
“Eles procuraram uma imobiliária para tentar vender quatro imóveis aqui em Palmas. E aí a gente quer saber o que tem a ver esses quatro imóveis com o homicídio do Nilton. Às vezes não tem nada a ver, às vezes é um álibi, inventaram uma desculpa. Mas às vezes tem. Então as buscas foram cumpridas com relação aos imóveis aqui em Palmas e em Ribeirão Preto [SP], que são dos proprietários desses imóveis para a gente tentar estabelecer o porquê os autores do crime queriam vender quatro imóveis em Palmas. E aí a gente precisa estabelecer se tem a ver com o crime ou se não tem”, destacou.
“Gostaria de agradecer os diversos apoios que tivemos para realizar essa operação. Não se faz uma investigação dessa magnitude sozinho. Então a gente destaca o apoio da Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana de Palmas, que nos forneceu dados fundamentais; outras unidades da Polícia Civil nos auxiliaram no início da coleta dos dados, a Polícia Civil do MT, do PA e de SP e a equipe do Graer da PM no transporte aéreo na operacionalização das medidas que foram tomadas na data de ontem”, finalizou o delegado titular da 1ª DHPP, Guilherme Torres.
Edição: Thâmara Cruvinel
Revisão Textual: Marynne Juliate