Uma conquista que por pouco não supera a do grande líder Siqueira Campos, considerado o fundador do Estado. Siqueira foi reeleito em 1998, no primeiro turno, tendo alcançado 61,6% dos votos válidos. Siqueira enfrentou naquela eleição o ex-governador Moisés Avelino, que ficou com 33,17% dos votos válidos. Wanderlei deixou o segundo colocado mais distantes. Ronaldo Dimas (PL) obteve 186.361 votos, o que corresponde a 22,50% dos votos válidos.
Wanderlei Barbosa é tocantinense de Porto Nacional, onde iniciou a carreira política como vereador em 1988, tendo sido eleito na primeira eleição do recém-criado Estado do Tocantins. O jovem vereador representava no parlamento portuense o pequeno distrito de Taquaruçu do Porto que, no ano seguinte, seria emancipado com o nome de Taquaruçu. Era o menor município do Tocantins. Em abril de 1989, a população elegeu seu primeiro prefeito, o fazendeiro Fenelon Barbosa, pai de vereador.
Em 1990, uma decisão do então governador Siqueira Campos – motivada pela necessidade de transferir a capital de Miracema do Tocantins para Palmas – surpreende Taquaruçu, que, do dia para a noite, de menor munícipio do Estado passa à condição de capital. Diante da resistência de Miracema em permitir a retirada da capital provisória, Taquaruçu aparece como solução. A proximidade do município com o canteiro de obras da nova cidade era estratégica, mas sobretudo a disponibilidade de suas lideranças em emprestar toda a estrutura administrativa do município, inclusive os gestores e vereadores, para abrigar a capital.
No dia 1º de janeiro de 1990, a capital deixa Miracema e é transferida para Taquaruçu, que muda sua sede administrativa para Palmas, até então um canteiro de obras, e transforma a sede do município em distrito da Capital.
A transformação de Taquaruçu abriu uma oportunidade política para os seus líderes. O prefeito Fenelon Barbosa passa a ser o prefeito de Palmas e os vereadores compõem o parlamento da capital. Wanderlei Barbosa renuncia ao mandato em Porto Nacional para assumir a subprefeitura de Taquaruçu. Começa ali a trajetória do jovem líder que, quase 30 anos depois, conquistaria o Palácio Araguaia, como o primeiro tocantinense a ser eleito governador do Estado.
Após a curta experiência como subprefeito de Taquaruçu, em 1996 Wanderlei conquista uma cadeira na Câmara de Palmas. É reeleito em 2000, 2004 e 2008, sempre com votação expressiva, saindo praticamente eleito do distrito de Taquaruçu. Quem imagina que Wanderlei é cria do siqueirismo precisa observar que, embora tenha nascido no siqueirismo, o filho do Fenelon divergiu muito cedo da prática siqueirista de tendência autoritária e chantagista.
Em 2002, Wanderlei conquistou a presidente da Câmara de Palmas com votos da oposição, num confronto com o siqueirismo que, naquela época, comandava o governo do Estado, tinha maioria na Assembleia Legislativa, comandava a prefeitura de Palmas e tinha maioria na Câmara do município. A eleição inicia um rompimento que o levaria a engrossar as forças políticas que elegeram o oposicionista Raul Filho prefeito de Palmas, em 2004. Wanderlei ainda se reelegeria presidente da Câmara em 2009, após a reeleição do prefeito Raul Filho, em 2008.
Wanderlei ainda exerceu dois mandatos de deputado estadual, até ser eleito vice-governador, em abril de 2018, em eleição suplementar e novamente em eleição ordinária, em outubro e novembro de 2018, como integrante da chapa liderada por Mauro Carlesse. Em outubro de 2021 com o afastamento do então governador Mauro Carlesse, assume o cargo e inicia o trabalho que o levaria a ser reeleito.
Fenômeno eleitoralO que explica o fenômeno eleitoral Wanderlei Barbosa? Vários fatores, certamente. Muitos, incluindo os que disputaram com ele estas eleições, atribuem unicamente ao acaso de ter assumido o governo do Estado e ter se beneficiado desta condição para se projetar para todo o Estado, tornando-se forte eleitoralmente, já que teve melhores condições de costurar apoio. Iss não deixa de ser verdade, mas é apenas um dos fatores.
O cientista político Carlos Oliveira observa que sorte, apenas, não produz fenômeno eleitoral. Para ele, o bom desempenho eleitoral do governador se deve a três fatores. O acaso do poder ter caído em seu colo, a trajetória política de 30 anos de vida pública que serviu de preparação para enfrentar o desafio que surgiu junto com a oportunidade do mandato de governador e a força da máquina administrativa que em qualquer lugar faz muita diferença.
Até assumir o comando do Estado, no dia 20 de outubro de 2021, Wanderlei tinha quase nenhuma experiência no Executivo. O mais perto disso que exerceu tinha sido o comando da subprefeitura do Distrito de Taquaruçu, quando seu pai, Fenelon Barbosa, era prefeito de Palmas. Ao que tudo indica, Wanderlei também pode ser considerado um gestor competente e afinado com o sentimento popular. A vitória também se explica pela boa avaliação do seu governo, que alcança índices inimagináveis de mais de 90%, entre ótimo, bom e regular.
Wanderlei Barbosa sai das urnas como um novo fenômeno eleitoral e com um futuro enorme pela frente
Outra vitória importante foi a eleição da deputada federal Dorinha Seabra Rezende (UB) para o Senado da República, também com votação expressiva, 395.408 votos, o que corresponde a 50,42% dos votos válidos, o dobro da segunda colocada, a senadora Kátia Abreu (pP), que fez de tudo para não desocupar a cadeira em que está há 16 anos, mas foi vencida. A eleição da Professora Dorinha revela que o governador conseguiu provar a sua liderança. A professora já passou a liderar a corrida quando o marketing da campanha colou a sua imagem na do governador.
Wanderlei Barbosa sai das urnas como um novo fenômeno eleitoral e com um futuro enorme pela frente. Se tornou o primeiro tocantinense a ser eleito governador. Esse dado se torna mais relevante após a experiência do governo Mauro Carlesse, notadamente composto por quadros vindo de outros Estados. Quando um governo dá preferência por gestores de “fora” em detrimento de quadros locais, termina criando embate com líderes locais que se sentem desprestigiados. E, se não são prestigiados, não se veem comprometidos em carrear votos.
Carlesse poderia até ser eleito a algum cargo, mas dificilmente teria o apoio que recebeu o “curraleiro”. É que a forma autoritária com que governou o Estado, impondo nomes, sem nenhuma relação com o Estado, o levou a ter enorme desgaste com a elite local. Mas seu grande erro político, não foi apenas trazer gestores de fora para ocupar as funções mais importantes de seu governo, mas também tentar “anular” o seu vice. Em alguns momentos chegou a dizer que não renunciaria para ser candidato ao Senado porque não tinha a quem confiar o governo. Deu no que deu.
Curraleiro
Na campanha, o governador explorou à exaustão a condição de ser tocantinense. O apelo popular pelo termo “curraleiro” ajudou a compor uma imagem de homem simples, do meio do povo, que não deixou o poder subir à cabeça. Wanderlei não era o único tocantinense entre os candidatos ao governo – Paulo Mourão e o Ricardo Macedo também são tocantinenses, mas só o governista conseguiu se projetar como filho da terra.
A percepção do cidadão tocantinense é de que finalmente o Estado está sendo comandado por um filho da terra. Wanderlei Barbosa mantém uma forte identificação com a cultura tocantinense. O homem que gosta de futebol, de cavalgada, que se comunica bem com o cidadão comum, porque é um deles. O “curraleiro” remete à ideia de filho da terra, genuíno, em quem se pode confiar plenamente por ser “um dos nossos”.
Capital simbólico importante para manter a confiança no governo e fazer a gestão avançar. Mas o capital simbólico não é suficiente. É preciso gesto concreto, ter políticas públicas bem planejadas e bem executadas que cumpram a função para a qual foram planejadas. Reduzir o índice de pobreza e ampliar as possibilidades de desenvolvimento do Estado são indispensáveis. Nada mais evidente do que a necessidade de um choque de gestão.
Os ex-prefeitos das três maiores cidades do Estado – Palmas, Araguaína e Gurupi – foram alçados ao plano estadual como líderes emergentes nestas eleições. O que fizeram para conquistar o cenário estadual? Aplicaram choque de gestão em seus municípios. Foram capazes de mudar a realidade de seus municípios a partir de uma gestão planejada e criteriosamente bem executada. Se quiser figurar na história como gestor, Wanderlei terá de inevitavelmente aplicar um choque de gestão no Estado, que há 16 anos vem patinando, como muito se falou durante a campanha. A escolha de uma equipe técnica e competente é o começo. O governador não precisa saber tudo, mas precisa saber formar equipe, um segredo simples da gestão de sucesso.